Entrevista: `` Papo Plus´´ com DJ Junior Kain
Boa noite!
Pouco mais de 2 meses eu conheci de perto o trabalho do DJ Junior Kain, na ocasião ele comandava o `` Warm Up´´ de uma festa aqui em Campinas que eu prestigiava, nesse instante ao ouvir o seu trabalho, que por sinal me agradou muito , já pensei em entrar em contato com ele.
Através de sua rede social, fui conhecendo mais sobre o seu trabalho e o convidei para uma entrevista aqui no Soundplus. Claro que ele topou e o resultado ficou incrível.
O Junior também é produtor musical e recentemente marca presença na música `` Freakin´ House Addicted´´ em parceria com a cantora Joe Welch.
O papo foi bem produtivo e vocês conferem agora com exclusividade essa matéria pra lá de produtiva.
Entrevista:
Soundplus: Qual é o seu nome verdadeiro e o de Dj? Tem quantos anos ? Mora em que cidade ? Junior Kain: Meu nome de batismo é Luiz Carlos Guimarães Junior, e o nome artístico é Junior Kain.
O Kain foi retirado do personagem antagonista do game Soul Reaver: Legacy of Kain, na qual a trilha sonora foi composta pelo meu grupo favorito, Information Society. Tenho 43 anos e moro em Campinas.
Soundplus: Em que ano iniciou a sua carreira ? Junior Kain: Eu comecei muito, MUITO cedo. Mas profissionalmente comecei em 1988.
Soundplus: Qual é o seu estilo ? Junior Kain: All things house music. Tudo o que tem "house" no nome, mas principalmente a original. Toco Jackin', Soulful, Tech, Progressive, Tribal, Deep.
Soundplus: Quem te inspirou e ainda inspira ? Junior Kain: A própria música é inspiradora, mas o que me fez seguir na profissão foram os DJ's que pavimentaram o caminho. No Brasil, Ricardo Guedes, Vadão, Badinha, Beto Nini, Banana (Rainbow), Iraí Campos, Gregão, Alex Hunt, Coppini e Tibor, Memê, e toda essa galera. De fora tem Tim Simenon, Ian Pooley, Todd Terry, Marshall Jefferson, Erick Morillo, David Morales, Roger Sanchez, Louie Vega, Kenny Dope, Joey Negro, e é claro, Information Society.
A essência das minhas produções vem desses caras. E no tribal tem Rauhofer, Barry Harris, Calderone, Yanon Yahel, Offer Nissim e os mestres brasileiros VMC, Rafael Lellis e toda a galera que produz bem.
Soundplus: Como você enxerga a cena atual ? Junior Kain: Cada vertente tem sua peculiaridade, mas vejo que existe uma vontade maior, principalmente na house music tradicional, de retomada e de revolução. As coisas estão acontecendo, os DJ's e produtores da nova safra começaram a se unir e a coisa está crescendo de novo. Isso é maravilhoso, num momento em que tudo é muito difícil e a facilidade de se botar material na rua não traduz a qualidade geral do mercado. Achar material bom é procurar agulha no palheiro, mas tem muita gente boa produzindo. Na cena LGBT, conversando com os amigos, vejo que já se iniciou por uma pequena parcela uma tendência a se usar mais harmonia e vocais poderosos, que sempre foi a grande sacada do Tribal House. Alguma coisa se perdeu no caminho, e todo mundo percebeu. Tem alguma coisa de qualidade recém-lançada, mas tem MUITA coisa no forno. Tá faltando aporte pra divulgar melhor esses artistas, e um pouco mais de feeling pra quem potencialmente pode tocar esse material.
Soundplus: O que precisa melhorar na cena hoje que no passado ou quando você começou já existia ? Junior Kain: Ao longo dos anos você percebe que movimentos vêm e vão, e quanto mais controverso, mais duradouro é. Falta respeito, sobra mimimi, e em pleno 2017 já não cabe mais preconceito seja de que forma for. Tudo tem mercado, tudo tem seu público, e ainda bem que é assim. A própria house music é fruto do preconceito e do ataque contra a disco music. A house music nasceu negra, gay e pobre. Aqui no Brasil já cometemos erros com comportamento preconceituoso musicalmente falando (eu inclusive). Achamos que tínhamos o rei na barriga, e declaramos guerra contra a lambada nos anos 90, poucos anos depois o axé veio das cinzas dela e dominou o mercado por muito tempo. Foi assim com outros estilos, e mais recentemente com o funk. Eu não curto, mas tenho o dever de respeitar. Isso vale pra todos os estilos.
Soundplus: Um blog como o Soundplus ajuda o Dj ? Junior Kain: É imprescindível. Todo canal de comunicação entre quem faz e quem ouve é importante. O feedback é mais imediato, e serve de orientação pro caminho que a gente segue. É tão importante quanto a resposta na pista, porque aqui existe troca de idéias, e na pista é troca de energia.
Soundplus: Você tem outra profissão ? Junior Kain: Designer gráfico e Web Designer.
Soundplus: Qual é o seu maior Sonho ? Junior Kain: Viver 100% daquilo que me dá mais prazer, a música.
Soundplus: Você acha negativo o Funk está invadindo a cena eletrônica, por que ? Explique brevemente sua visão . Junior Kain: Nem positivo nem negativo. Quando o gato sai, o rato faz a festa. É a consequência de se fazer as coisas sempre do mesmo jeito, com os mesmos timbres, com a mesma pegada... O público cansa e demanda mudança, e nem sempre é pra melhor, e sim simplesmente porque é diferente, sai do "mais do mesmo". Vira uma bola de neve, passa pelos contratantes, promoters, e cai na cabine. E não é simplesmente se recusando que vai resolver a coisa a médio e longo prazo, tem que reinventar, mudar, melhorar, evoluir. Aí tudo no seu tempo volta pro devido lugar. O funk pro baile funk, o tribal pra balada LGBT, o rock pros bares, etc...
Você como consumidor tem de volta o poder de escolha, e não engolir de tudo porque a maioria quer, saca?
Soundplus: A música pra você é... Junior Kain: Minha vida!
Soundplus: Qual foi a música que mais te marcou e Ainda marca até hoje ? Junior Kain: Information Society - What's On Your Mind (Pure Energy Club Mix)
Soundplus: Um conselho para quem está começando ! Junior Kain: Quem teme perder já está vencido. Só prevalece aquele que confia.Preparação, estudo, aprimoramento e chá preto não fazem mal à ninguém. Preze pela qualidade sempre, a mão que faz mal feito é a mesma que faz bem feito.Respeite quem chegou primeiro, ouça o que eles dizem. Ajude quem chega depois, passe adiante seu aprendizado. E acima de tudo, respeite a profissão, e os profissionais que dela vivem. Ser DJ é gostoso, mas não é brincadeira, não há espaço pra aventureiros, tem que se dedicar.De resto, é só parabéns, bem vindo e boa sorte!